Exportar é o que importa?

por Diogo Coelho (publicado originalmente no site ordemlivre.org)

Dasa

Um aspecto importante para o cálculo do PIB é a balança comercial: a diferença entre exportações e importações. Quando as exportações superam as importações, o saldo da balança comercial é positivo (superavitário). Quando as importações superam as exportações, o saldo é negativo (deficitário). Quanto maiores as exportações, mais dinheiro entra no país. Logo, não é difícil concluir que, quanto maior o saldo positivo na balança comercial, maior é o PIB. Para promover o crescimento, deveríamos, então, estimular as exportações. Certo?

Novamente: não. As exportações não devem ser vistas como o lado bom do comércio – e as importações como o lado ruim. O que um país ganha com a venda de produtos no exterior é a capacidade de importar o que deseja. São as importações, e não as exportações, o propósito do comércio internacional.

É necessário entender que toda transação internacional é uma troca. Quando um vendedor de um país entrega um bem ou um serviço ao comprador de outro país, esse comprador entrega ao vendedor um ativo para pagar pelo bem ou pelo serviço consumido. Esse ativo geralmente corresponde a uma divisa (moeda) estrangeira. A moeda estrangeira geralmente não possui valor, ou não serve como meio de troca, domesticamente. O que, então, o vendedor, na posse da moeda estrangeira, pode fazer? Só lhe resta uma opção: ofertar aquela moeda a quem quer adquiri-la, no seu país, para comprar bens ou serviços lá fora. Isso se chama mercado de câmbio.

As exportações não são um objetivo em si: a necessidade de exportar é um ônus que um país tem de suportar porque seus fornecedores de importações exigem pagamentos em moeda estrangeira. O comércio internacional não passa de mais uma atividade econômica, sujeita aos mesmos princípios que qualquer outra atividade. E esse tipo de atividade, diferentemente de empresas atuando em mesmo setor, não diz respeito à competição entre os países, mas sim à troca mutuamente benéfica.

Podemos ilustrar esses argumentos com a seguinte história: imaginemos que na década de 1980, enquanto o Brasil mantinha uma reserva de mercado no setor de informática, um empresário brasileiro criou uma máquina capaz de converter soja e madeira nacionais em computadores baratos e de alta qualidade. Ele foi saudado imediatamente como um grande inventor e um herói da indústria nacional. Embora alguns de seus concorrentes internos fossem prejudicados, todos concordaram que a invenção dessa máquina foi algo fantástico e que beneficiou o país. Certo dia, um repórter investigativo descobriu que, no galpão onde estaria a famosa máquina, funcionava, na verdade, um porto. Não havia máquina alguma! O empresário enviava soja e madeira para a Ásia e, com o dinheiro apurado, comprava computadores lá fora. O empresário então foi logo denunciado como um impostor que estava solapando a indústria de informática nacional. A história serve para ilustrar uma ideia simples: o comércio internacional pode e deve ser considerado espécie de produção que transforma exportações em importações.

Não é verdade, portanto, que as importações prejudicam o crescimento econômico de um país, enquanto as exportações ajudam. O acesso às importações – sapatos, roupas, alimentos, carros e aparelhos eletrônicos (como geladeira e fogão) – de melhor qualidade e a preços mais baratos não torna a população mais pobre. Ao contrário: aumenta o seu bem-estar. O comércio internacional é essencial para o crescimento, claro, mas não pela simples diferença entre exportações e importações. O comércio internacional ajuda no crescimento econômico por que possibilita expandir os mercados aos quais a população brasileira tem acesso.

A experiência histórica demonstra que países com economias mais abertas ao comércio internacional crescem mais rápido e atingem qualidade de vida mais elevada do que aqueles que permanecem fechados. Quando bens, serviços e capital podem circular livremente entre as fronteiras (entrar e sair), os brasileiros podem aproveitar cada vez mais as oportunidades oferecidas nos mercados mundiais – e participar das cadeias globais de produção. Eles podem comprar bens mais baratos e de melhor qualidade; eles podem vender para os mercados mais promissores; eles podem escolher entre as melhores oportunidades de investimento; e eles podem se inserir em uma rede mundial de demanda e de oferta de serviços, trabalho e capital.

O acesso a tecnologias e a insumos mais baratos torna as empresas nacionais mais competitivas. O acesso a outros mercados permite ampliar a concorrência e obriga as empresas brasileiras a se tornarem mais eficientes. E em uma economia aberta e competitiva, a eficiência das empresas permite que elas exportem com mais facilidade. Logo, importar também importa.

Conclusão: o PIB revela pouco, ou nada, sobre o que faz uma economia crescer

O PIB não passa de um resumo contábil da economia. O seu cálculo não leva em consideração o fato de que, para investir mais hoje, temos que poupar mais e consumir menos. O PIB, em si, não revela nada sobre o que faz uma economia crescer. Na melhor das hipóteses, ele revela o tamanho de uma economia – e se ela está se expandindo ou encolhendo. A análise superficial dos seus componentes não diz muito sobre o que se pode fazer para promover o crescimento. Afinal, estatísticas econômicas são como um biquíni: revelam partes importantes e escondem as vitais.

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