Por que o governo elevou a taxa de juros?

Alexandre-Tombini2Por Mateus Maciel

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros (SELIC) foi elevada a 11,25%. Tal fato impressionou inúmeros analistas e contrariou até mesmo declarações da presidente Dilma, durante a campanha eleitoral. Entretanto, por que os juros estão tão altos?

Em economia estudamos que os investimentos são muito sensíveis a alterações nas taxas de juros. Logo, taxas de juros altas desestimulam investimentos, ao passo que taxas mais baixas tem o efeito contrário. Além disso, como se endividar ficar mais caro, taxas alta estimulam a poupança, enquanto taxas baixas estimulam o consumo.

Os juros são, portanto, extremamente importantes para a economia de qualquer país. Infelizmente, o governo é quem os controla, fazendo com que os indivíduos sejam punidos por suas atitudes, tendo que arcar com taxas altas. Tentarei explicar esse fenômeno a seguir.

Os gastos dos governos com saúde, educação, segurança, empresas estatais, subsídios, obras e etc. fazem com os mesmos gastem mais do que arrecadam. Tal fato acaba por gerar um déficit nominal, como podemos ver no gráfico a seguir.

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Como elevar impostos é uma medida bastante impopular  – especialmente no Brasil, onde a carga tributária é alta – e emitir moeda diretamente não é mais permitido, os governos vendem títulos da sua dívida no mercado. Com isso, ele pode financiar seus gastos e fazer com que a conta seja paga no mandato de outra pessoa.

O problema é que essa dívida aumenta todo o ano, por conta da incidência de juros. Os governos, portanto, poupam uma parte de suas receitas para poder pagar partes dessa dívida. Essa economia para o pagamento de juros da dívida se chama superávit primário. No gráfico a seguir é possível ver o resultado do primário nos últimos anos, em relação ao PIB.

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Além da incidência de juros, a dívida aumenta também porque o governo contraiu mais dívidas. Dessa forma, se a dívida aumenta, o governo deveria poupar mais para conseguir pagá-la, não? Em tese sim e qualquer dona de casa sabe disso muito bem. Entretanto, o governo se endivida mais para pagar uma dívida que já contraiu.

Podemos ver isso através do que chamamos de Necessidade de Financiamento do Setor Público. Um país, como o Brasil, que precisa se financiar constantemente precisa dar segurança aos seus credores. Assim, ele eleva a taxa de juros para aumentar o retorno destes.

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Além de a questão fiscal contribuir bastante para a alta taxa de juros praticada no Brasil, a questão monetária também é bastante importante. Atualmente, a inflação está em 6,75%, acima do limite de 6,5%. Como o Banco Central acomodou a inflação acima do centro da meta, os reajustes salariais e de preços ficaram acima de 4,5%. Tal fato contribuiu para que a indexação da economia crescesse.

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Inflação no Brasil (Fonte: Trading Economics)

Outro fato que contribuiu para a elevação da inflação de preços foi o aumento do consumo de forma forçada, via redução da taxa de juros e concessão de crédito por parte dos bancos públicos. Isso fez com os brasileiros fossem às compras, torrando todas as suas economias e contraindo dívidas para adquirir eletrodomésticos, casas e carros. Essa pressão da demanda, fez com que a o preço dos produtos subisse.

No gráfico a seguir, dividi os componentes (mais a desvalorização cambial) do principal índice que mede a inflação no Brasil – o IPCA – e fiz uma média. É possível notar um aumento expressivo nos preços dos bens semi duráveis (roupas, calçados, etc.), não duráveis (alimentos) e dos serviços, nos últimos anos.

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Fonte: IBGE

Já os preços monitorados (gasolina, eletricidade, multas de trânsito e etc.) tiveram um aumento pequeno. Isso porque o governo não reajustou ou reajustou muito pouco os preços desse seguimento, com o intuído de controlar a inflação. Segundo uma matéria do site da revista Exame, caso estes preços não tivessem sido represados, a inflação seria de 8%.

Como 2014 era um ano eleitoral, a presidente não queria correr o risco político de elevar o preço desses produtos, pois seu governo sabia que tal aumento bateria no índice de preços.Tanto que, após as eleições, o preço da energia elétrica subiu, assim como o das multas de trânsito. Além disso, o governo já está preparando um aumento de preços da gasolina.

Além dos problemas fiscais e monetários, existe o perigo que vem de fora. No mesmo dia em que o BC brasileiro aumentou a taxa básica de juros em 0,25%, o Banco Central dos Estados Unidos (FED) decidiu encerrar o programa de afrouxamento monetário. O mercado já espera que nas próximas reuniões da autoridade monetária norte-americana os juros de lá sejam elevados. Tal fato faria com que investidores estrangeiros tirassem seu dinheiro daqui para aplicar em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Os efeitos desse movimento no Brasil podem ser graves, uma vez que pode ocorrer uma forte fuga de capitais. Essa fuga faria com que o câmbio se desvalorizasse, fazendo com que os produtos importados e os que usam componentes do exterior ficassem mais caros. Esse aumento de preços elevaria a inflação de preços.

Portanto, são esses os principais fatores que fazem com que a taxa de juros no Brasil seja alta. Existe um fator histórico que é o agravamento no campo fiscal, por conta dos gastos crescentes do governo e alguns problemas no campo monetário, que estão ocorrendo por conta de políticas expansionistas praticadas pelo atual governo nos últimos anos. A única saída que o governo encontra, já que não quer cortar gastos e muito menos desaquecer a demanda, é elevar a taxa básica de juros.

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