A história do movimento libertário brasileiro

Por Filipe Celeti (publicado originalmente no site mercadopopular.org)

 

Uma das coisas mais complicadas é escrever a história. O distanciamento dificulta a compreensão, mas a proximidade também impede um olhar sem tanta participação do fenômeno historiado. O momento é recente, sem a possibilidade de distanciamento temporal para digerir os fenômenos e ainda há participação direta de quem historiografa este pequeno intervalo de tempo que marca o nascimento do movimento libertário brasileiro. Tendo em vista a parcialidade e as limitações, aconteceu e está acontecendo o que se segue.

Escolhi marcos históricos que mudaram a tendência do movimento ou que possibilitaram uma nova forma de militar. Faço alguns julgamentos, cometo equívocos, mas pretendi não construir heróis do movimento. Prefiro escolher meus heróis depois que morrem, pois não posso cometer o erro de observar a história de uma forma e estar deveras equivocado com o que vi. Não vou explicar terminologias e conceitos. Esta história é informativa, não uma defesa de um ponto de vista dentro do libertarianismo, apesar de muitos conhecerem minha visão de mundo a partir do que escrevo.

Este texto é um relato do que vivenciei. Do que vi, ouvi, li, pesquisei e me informei. Desculpem-me se algo importante não está destacado. Mesmo muitas pessoas podem esquecer de algo.

Antes de 2004 – Think Tanks e Mobilizacões Esparsas

Quando se fala em movimento libertário no Brasil é preciso separar dois grandes momentos. Há uma era de mobilização individual que perdura até 2004 e uma mobilização grupal que se inicia principalmente através da rede social Orkut. Obviamente que muita coisa ocorreu no Brasil antes de 2004. Poderíamos começar a história com os portugueses aventureiros que vieram viver por aqui muito antes da coroa portuguesa pretender tomar posse da terra distante. Inúmeras personagens do movimento inconfidente, do movimento abolicionista e de outros levantes contra os governantes e seus asseclas poderiam ser lembradas. Entretanto, o moderno libertarianismo surge no século XX e falar deste passado é falar de um proto-libertarianismo, como Bastiat, Cantillon, Spooner, Tucker e outros pensadores que possibilitaram a fusão de ideias que culminaram no movimento libertário.

A era pré 2004 é marcada pela atuação do Instituto Liberal (IL). Fundado em 1983 no Rio de Janeiro por Donald Stewart Jr (1931-1999), o instituto passou a traduzir obras sobre o liberalismo, praticamente inexistentes no Brasil. Destaque para a primeira edição do livro Ação Humana de Mises. Junto com as traduções vieram as palestras, colóquios e seminários. Dentre os professores e especialistas, juntou-se ao IL o professor Og Francisco Leme (1922-2004), que permaneceu no instituto até 2003. O trabalho do IL e principalmente de Donald Stewart Jr e Og Leme foi o de transmitir e ensinar a empresários e jovens proeminentes intelectualmente os princípios da liberdade e as bases de uma sociedade liberal, muitas vezes com aulas particulares. O IL abriu mais sete instituições em capitais brasileiras, mas por problemas administrativos foram sendo fechadas e reincorporadas ao IL-RJ, com exceção do IL-RS, que se tornou o Instituto Liberdade em 2004.

No Rio Grande do Sul também havia o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), fundado em 1984 em Porto Alegre por jovens empresários. O IEE funciona do mesmo modo até hoje. Um grupo de jovens empresários debate e estuda temas das mais diversas áreas com a finalidade de se tornarem líderes que defendam uma sociedade justa, ética e livre. Os encontros se destacam por conta dos convidados que palestram: intelectuais, especialistas, políticos, ganhadores de Nobel. Em 1988 o IEE organizou o seu primeiro Fórum da Liberdade, evento que tem sido realizado anualmente até hoje.

O primeiro presidente do IEE foi William Ling, da mesma família que em 1995 fundou o Instituto Ling para conceder bolsas de estudos a jovens, com potencial, para instituições de ensino de ponta.

O Instituto Friedrich Naumann para a Liberdade no Brasil, em atividade desde 1984, tem trabalhado na formação política e cívica. A atuação em formação política esteve ligada à juventude do partido Democratas, atividades em conjunto com outros institutos liberais e a publicação de obras relacionadas ao cotidiano político e ao como defender as ideias liberais no mundo político real.

Apesar de livros e autores libertários serem debatidos a partir da atuação deste grupos, havia ainda um foco muito mais num liberalismo econômico, ausente no Brasil, do que num sistema filosófico que abordasse a liberdade de forma mais ampla. O conservadorismo e anti-petismo marcaram os debates liberais antes da eleição de Lula.

Diversos intelectuais e empresários se esforçavam para difundir o liberalismo no Brasil como José Guilherme Merquior (1931-1991), J. O. de Meira Penna (1917-), Jorge Gerdau Johannpeter (1936-), Roberto Bornhausen, Leonidas Zelmanovitz, Candido Prunes e André Burger. Uma figura responsável por um debate amplo acerca da liberdade por conta de sua exposição enquanto político e polêmico foi Roberto Campos (1917-2001). Deste grupo de liberais, talvez o único libertário brasileiro desse tempo pré 2004 tenha sido o Henry Maksoud (1929-). O empresário escreveu uma nova constituição, diversos livros sobre liberalismo econômico, além de defender que todos os políticos eleitos fossem enviados a uma ilha para não governarem e pararem de dar canetadas que inviabilizavam o empreendedorismo brasileiro. Maksoud era, sem dúvidas um liberal radical, defensor não apenas de liberdade econômicas, mas também de liberdade individual. Em 1974 comprou a Revista Visão e a tornou um veículo de propagação de ideias liberais, mesmo sob um regime de censura. A revista criticava o regime militar brasileiro e sua postura estatista, desenvolvimentista e intervencionista, assim como o sindicalismo e as políticas sociais.

Na virada do século, Renato Lima, Eduardo Maia e Rafael Ferreira formaram um grupo de estudos em Recife-PE, a Sociedade Hayek. Os colegas de faculdade, de diferentes cursos, se reuniam para discutir textos de filosofia e economia, em especial clássicos inexistentes no currículo dos cursos universitários. O espírito crítico e não dogmático do grupo incentivou a formação de outros grupos de estudos. O sucesso da Sociedade Hayek pode ser visto nos 4 prêmios Donald Stewart Jr, concedido pelo IL, a estudantes que participavam do grupo, Renato Lima, Rafael Ferreira, Arthur Gomes e Diogo Coelho. Entre os estudantes da Sociedade Hayek muitos se destacaram como Renato Lima (hoje no MIT), Diogo Coelho (Itamaraty) e Emiliano Abad Monteiro de Melo (embaixador no Brasil da Sandbox Network). No curso de jornalismo da UFPE, uma das marcas deixadas pelos hayekinos foi a copa de futebol criadas por eles, que até hoje se chama Paulo Francis.

Renato Lima e Eduardo Maia também fundaram, em 2002, o Café Colombo, um programa de rádio sobre livros e ideias que promove o pensamento liberal com comentários de obras como Ação Humana e Caminho da Servidão. Foram feitos programas dedicados a personalidades liberais, como Roberto Campos, e entrevistas com personalidades liberais. O programa que vai ao ar até hoje na Rádio Universitária da UFPE foi a porta de entrada de diversos estudantes no movimento libertário, pois através do programa conheceram livros, institutos e palestras.

No mundo virtual, os poucos blogs versados em filosofia da liberdade e economia austríaca eram o Austríaco do Lucas Mendes, O Indivíduo, do Pedro Sette Câmara, Sérgio Coutinho de Biasi e Alvaro Velloso, e aqui e ali algumas publicações do Alceu Garcia (pseudônimo do advogado Pedro Mayall Guilayn). Vale lembrar quem em novembro de 1997 os três amigos de O Indivíduo distribuíram um jornal físico na PUC-RJ, causando um enorme rebuliço na instituição. O blog foi resultado desta militância.

A maioria dos indivíduos estavam espalhados e raros eram os encontros de liberais radicais. A maioria ainda adepta de um liberalismo clássico com argumentos da escola austríaca de economia contra o dirigismo do estado. Também na internet havia um grupo que se reunia no fórum de debates do antigo site do Olavo de Carvalho. Com o fechamento do fórum e um pouco órfãos dos ILs, algumas pessoas se reuniram num grupo de discussões de e-mail do Yahoo, a “Rede Liberal”.

2004 – 2008 – O Orkut

Como dito anteriormente, o aglutinador dos libertários foi o Orkut. Isso se deu principalmente por conta das opções políticas que o site dava para colocar em seu perfil. Entre as opções havia “libertarian” e “very libertarian”. Como no Brasil o termo “libertário” sempre foi controverso, muitos anarquistas colocaram a opção “very libertarian” em seus perfis. Por este motivo, em 2004 foi criada uma comunidade chamada O que é very libertarian?, para discutir e explicar o termo no Brasil.

Foi a partir de 2005 que, entre os debatedores do Orkut, surgiu um jovem economista chamado Rodrigo Constantino, que se firmou enquanto formador de opinião. Constantino participava de inúmeros debates, muitos calorosos, lhe rendendo muitos fãs e desafetos.

Existiu um blog durante o ano de 2006, o Ação Humana, de Guilherme Roesler. O autor, um estudante de direito, possuía outros blogs (Gazeta Cultural  e Federalista), mas seu paradeiro ainda é desconhecido. Um dos poucos blogs de 2006 que ainda estão no ar é o blog do Sol Moras Segabinaze, o SOL.

Em 2006 já haviam comunidades em português sobre libertarianismo e sobre autores como Rothbard, Mises e Hayek. O pólo central dos debates era a comunidade Liberalismo e depois na Liberalismo (verdadeiro), quando os conservadores tomaram a primeira. Os debates também foram calorosos na Economia Brasileira.

Um marco e constantemente citada era a comunidade Liberais de Orkut na Kombi, criada pelo Léo Miranda (hoje envolvido com o Estudantes Pela Liberdade na região de Ipatinga). Em 2007 foi enchida a primeira Kombi. Se você está lendo este texto é porque muitas outras ficaram lotadas.

Em 2005 e 2006 discutiu-se a criação de um partido libertário. Tudo começou com Fernando Chiocca em 21 de Novembro de 2005, criando uma comunidade no Orkut para atrair interessados. A primeira versão do atual LIBER foi o P-LIBER (depois P-LIB), com logotipo, site e diversas propostas feitas pelo Alexsander Rosa. Com o tempo e os debates as pessoas do Orkut passaram a desenvolver a ideia até chegarem no nome Libertários e novo logo. Visto como solução para o cenário político, o LIBER obteve apoio de anarcocapitalistas, minarquistas, liberais clássicos e objetivistas, como Geraldo Boz Junior e Edu AFO.

Muitos libertários participaram deste aprendizado de debates. Fernando Chiocca se consolidou como defensor radical da liberdade tendo como marca o desprezo pelas ideias erradas de seus oponentes. Henrique Vicente, Guilherme Inojosa e Rhyan Fortuna eram bem ativos nesse período. O debate principal daquela época se dava entre o libertarianismo jusnaturalista e o utilitarista. Debates sobre anarcocapitalismo e minarquia também eram frequentes.

Em 2007 aconteceu a primeira reunião oficial do Libertários (LIBER) em São Paulo, no dia 12 de Agosto, com Filipe Rangel Celeti (conhecido como F) e André Luiz de Freitas Paranhos (conhecido como Presidente, foi o presidente do Libertários-SP quando o partido ainda não havia se registrado). O grupo passou a se encontrar eventualmente num café na Av. Paulista e depois mudou os encontros para o apartamento do André Rufino. Além do Filipe e dos Andrés, Carlo Rocha, Roberto Chiocca, Cauê Bocchi, Ney Fonseca e Natan Cerqueira eram os libertários mais ativos na capital paulista. Foi a partir destes encontros que o amigo do Rufino, Bruno Paludo, também aderiu à causa. Nesta mesma época os libertários de Belo Horizonte passaram a se reunir na casa do Caio Magno. Entre os participantes estavam Juliano Torres, Thiago Guedes, Bernardo Gaetani, Henrique Vicente e Luciana Lopes Nominato Braga. A partir destes encontros, Minas Gerais passou a ser o ponto de multiplicação de novos libertários. Na cidade do Rio de Janeiro os encontros contavam com Bernardo Santoro (que cedia seu escritório para os encontros), Eric Duarte, André Victor Frajtag, Thiago Pinheiro, Pedro Henrique Gonzalez e Tertuliano Soares.

Foi em 2007 que o vídeo A filosofia da liberdade ganhou sua versão legendada em português, contribuindo para a disseminação das ideias.

2008 – 2012 – A Tomada da Internet

Após passar alguns anos no Orkut, como se fosse a incubadora libertária, o movimento passou a se expandir. Erick Vasconcelos monta o blog Libertyzine na metade de 2007 e no fim deste ano entra no ar o site do Instituto Ordem Livre, projeto da Atlas Economic Research Foundation em cooperação com o Cato Institute.

Os irmãos Roberto e Fernando Chiocca, juntamente com Hélio Beltrão, Leandro Roque e o professor Antony Mueller fundam o Instituto Ludwig von Mises Brasil, que vai ao ar no início de 2008. Apesar da tradução de artigos do Mises Institute, o Mises Brasil (IMB) não é subordinado ao instituto norte-americano. No mesmo ano, Rafael Hotz lança seu blog Enxurrada e Rafael Guthmann coloca no ar o seu Preço do Sistema (idealizado por Juliano Torres). Este ainda seria o ano em que Juliano Torres, o jovem vindo do movimento federalista e participante de inúmeras discussões, colocaria no ar o Portal Libertarianismo. Um pouco tempo o Mises Brasil e o Portal Libertarianismo se tornaram referenciais de conteúdos em português.

Foi em abril de 2008 que, na véspera do Fórum da Liberdade XXI, no programa Conversas Cruzadas, Rodrigo Constantino e Ciro Gomes debateram. O preparo do político sobressaiu ao economista criando uma das expressões mais comuns do meio libertário: “Isso dá bilhão?”.

No final de 2008 foi criada a Rothbard Society, grupo que intentava concentrar a divulgação do libertarianismo através de apostilas introdutórias distribuídas a diversos setores da sociedade. O grupo trocava textos para a formação pessoal e foi provavelmente o brainstorming de diversos projetos que se desenvolveram quando os ânimos se esfriaram e o grupo acabou.

Para além do universo de tradução de textos e livros e produção de material original em blogs e sites de institutos, Olavo Rocha (1988-2009) passou a gravar vídeos com sua produtora Fonft Filmes. O humor foi a marca das produções da Fonft, que infelizmente parou com suas atividades com o falecimento do Olavo.

Em 2009 um grupo de estudantes da UnB, que contava com Carlos Góes e Diogo Coelho, dentre outros, deu o pontapé para a criação de movimento estudantis defensores da liberdade ao fundarem a Aliança Pela Liberdade. No mesmo ano o grupo já participava dos Conselhos Superiores da Universidade de Brasília. Causaram enorme barulho na universidade quando, em 2011, elegeram uma chapa para a direção do Diretório Central dos Estudantes.

No Fórum da Liberdade de 2009, Diogo Costa e o Ordem Livre juntaram todos os liberais do Brasil envolvidos em algum movimento para planejar ações. Neste encontro foi decidido que o LIBER deveria ser criado em Belo Horizonte. Muitos laços foram criados entre diversos institutos que não se conheciam e um “Dia da Liberdade dos Impostos” foi feito em conjunto naquele ano.

No dia 20 de junho de 2009, um grupo de ativistas fundou o Libertários (LIBER) em Belo Horizonte. Juliano Torres foi eleito Presidente. Permaneceu no cargo até 2011. Na reunião de fundação o debate se deu entre anarcocapitalistas e minarquistas. Após concessões, foram aprovados um estatuto descentralizador e pautado em princípios inalienáveis e um programa moderado.

Ainda em 2009, Torres criou um grupo no MSN do Libertários. O chat sobre futebol, novela e todo tipo de assunto, inclusive política, atraiu muita gente para o libertarianismo. A informalidade conectou pessoas do Brasil todo, gente que futuramente veio compor apoio ao LIBER, ao Portal Libertarianismo e ao Estudantes Pela Liberdade.

Em 2009 o Ordem Livre organizou o primeiro Liberdade Na Estrada, que contou com a participação de Adolfo Sachsida, Bruno Garschagen, Diogo Costa, Hélio Beltrão, Lucas Mafaldo e Rodrigo Constantino. O LNE se repetiria pelos anos seguintes.

Em 2009, o IMB criou o I Prêmio IMB de artigos. As premiações foram cursos promovidos pelo Mises Institute. As categorias de premiação foram: Melhor Artigo e Maior Contribuição, ganhadas respectivamente por Joel Pinheiro da Fonseca (editor da revista Dicta&Contradicta e escritor no blog Ad Hominem) e Juliano Torres. Neste mesmo concurso tiveram menção honrosa Filipe Celeti e José Carlos Dragone.

No início de 2010, manifestantes do Rio de Janeiro organizaram uma passeata contra o PNDH-3 e a favor da liberdade. Esta manifestação foi a primeira a receber apoio do Libertários. O panfleto de convocação e de distribuição teve texto de Rodrigo Constantino. No Rio de Janeiro, a Globo e a Folha cobriram a manifestação. Em São Paulo a manifestação contou com a presença de partidários do PPS, Integralistas e do Movimento Mudança Já. Com um megafone um partidário do PPS falou e depois os integralistas passaram a usar o megafone. As falas começaram a sair do debate sobre o PNDH-3 e a Paola Morales Cardenas do LIBER se revoltou com os integralistas. Depois que os ânimos abaixaram Filipe Celeti usou o megafone e discursou a favor do indivíduo e contra as panacéias de povo, estado, pátria e outras loucuras ditas pelos outros participantes. Quando os integralistas falaram novamente disseram “filho de bandido vai ser bandido” e que “prostituta não tem dignidade e integridade”. Os libertários se revoltaram e os integralistas foram embora da manifestação.

Em abril de 2010, o IMB organizou o I Seminário de Economia Austríaca em Porto Alegre . Entre os palestrantes havia economistas estrangeiros, como Lew Rockwell, Joseph Salerno, Mark Thornton e Thomas Woods, além de David Friedman (filho de Milton Friedman) e Patri Friedman, filho de David. Entre os representantes brasileiros: Ubiratan Iorio, Rodrigo Constantino, Fábio Barbieri e Antony Mueller. A mídia classificou o seminário como “Uma visão ainda mais liberal” e uma “defesa do ultraliberalismo”. O evento possibilitou um encontro entre os defensores do libertarianismo, grupo que crescia a cada dia.

Em julho deste ano vai ao ar o primeiro blog assumidamente fusionista (conservador libertário), o Libertar, do Marcos Paulo Goes. O site é quase uma versão brasileira do conhecido site americano Info Wars.

Em 2011 foi montado na FEA o GEEA – Grupo de Estudos da Escola Austríaca, organizado por Gabriel Oliva, Thomás de Barros (um dos primeiros na FEA a estudar Escola Austríaca e que economicamente se tornou keynesiano), Felipe Farah, Felipe Durazzo, André Castro, Felipe Passero, Einstein do Nascimento e Filipe Celeti. Outros grupos de estudos foram criados por todo o Brasil.

No ano de 2011 ainda houve a eleição de Bernardo Santoro como presidente do LIBER e discussões internas que iriam desestabilizar o movimento partidário por conta do atrito de alguns membros fundadores. O foco do LIBER deixa de ser expansão para ser profissionalização.

Neste ano, Thiago Guedes, fundador do LIBER, do Portal Libertarianismo, do Grupo do MSN, dos Debates orkuteiros, simplesmente abandonou o libertarianismo para militar em movimentos e partidos de esquerda, tornando-se grande crítico do movimento libertário e de seus membros.

Ainda em 2011 o LIBER participou da Marcha Pela Liberdade em São Paulo, por conta da proibição da Marcha da Maconha. Apesar de entrevistados por alguns veículos como Canal Brasil e Radio Jovem Pan não foi possível saber se as falas foram ao ar.

Este momento (2009-2011) marcou a entrada de intelectuais e especialistas no movimento, principalmente orbitando o IMB, entre os principais: Ubiratan Iorio e Fabio Barbieri na Economia, André Luiz Santa Cruz Ramos no Direito, Klauber Cristofen Pires na Burocracia Estatal e Itamar Flávio da Silveira na História, para citar alguns nomes. O alcance do IMB chegou a pessoas como o jornalista Leandro Narloch, autor da franquia best-seller Guia Politicamente Incorreto.

Apesar da chegada de novos nomes, foi em 2011 que Rodrigo Constantino se afastou do IMB. Após ter um artigo sobre Mises e a democracia não publicado, passou a criticar o radicalismo de membros do conselho e de artigos. Torna-se um defensor de Mises e um crítico do Rothbard radical. A partir disto a sua carreira como colunista decola e seu discurso se torna mais moderado. Futuramente haveria mais uma briga entre o economista e o IMB.

2012 – Atual – Expansão e Consolidação

O começo de 2012 foi marcado pela produção dos Podcasts do IMB, liderados por Bruno Garschagen (Ordem Livre, Millenium e O Insurgente).

Foi apenas em 2012 que o movimento estudantil pela liberdade foi consolidado no Brasil. Após discussão acerca da ideia no Seminário de Verão do Ordem Livre em Petrópolis-RJ, o Estudantes Pela Liberdade (EPL) foi realmente organizado como o Students For Liberty global. Encabeçado por Juliano Torres, o EPL tem em seu conselho consultivo nomes como André Luiz S. C. Ramos, Anthony Ling, Carlos Pio, Diogo Costa, Fabio Barbieri, Fabio Ostermann, Helio Beltrão, Joel Pinheiro da Fonseca, Paulo Uebel, Rodrigo Constantino e Ubiratan Jorge Iorio. Dentre as lideranças estudantis: Carla Pereira, Carlo Rocha, Cibele Bastos, Daniel Sabba, Felipe Trentin, Guilherme Benezra, Mano Ferreira, Isabela G. Campos Christo, Carlos Góes, Juliano Torres e Pedro Menezes.

Este encontro em Petrópolis não apenas iria consolidar o movimento estudantil libertário brasileiro, mas dar a cara a uma abordagem mais Bleeding Heart do Libertarianismo, herança da visita de Steven Horwitz ao Seminário de Verão do OL, como pode ser notado com a criação do site Capitalismo para os Pobres, de Diogo Costa.

No universo político, o ano de 2012 contou com a participação de libertários nas eleições municipais. Bernardo Santoro concorreu no Rio de Janeiro-RJ e Sidnei Santana em Vitória-ES. Nenhum dos dois foi eleito. Rafael Lemos foi eleito o novo presidente do LIBER em 2013.

Foi a partir de 2012 que Dâniel Fraga se consolidou como vlogger libertário de política. Sua defesa do anarcocapitalismo tem movimentado o universo dos debates políticos no YouTube. No mundo libertário temos os vídeos do Edu Abreu, do Helleno de Carvalho Motta e da Jubs.

Surgiram neste período novos nomes que se tornaram proeminentes por conta do Facebook. Entre as personalidades destacam-se Luciano Takaki e Paulo Kogos.

Ainda neste ano o Instituto para o Desenvolvimento Econômico, Institucional e Social – IDEIAS (instituto criado por Juliano Torres para ser uma incubadora de diversos projetos) lançou a versão em português do Diagrama de Nolan e o Impostômetro de Bolso, aplicativo para celular. A execução técnica ficou a cargo da Algorich, empresa do libertário Max (Herond Salles). No ano seguinte, o IDEIAS foi incorporado ao EPL e, novamente em parceria com a Algorich, foi lançado o Índice de Liberdade Econômica.

Em 2013 o IMB lançou a revista acadêmica MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia. A revista foi um marco para a produção acadêmica nacional e a tradução e publicacão de textos inéditos como, por exemplo, a tradução direto do latim de Rufino de Bolonha. Os responsáveis pela publicação foram o professor Ubiratan Iorio e o pesquisador Alex Catharino.

A segunda briga de Constantino com o IMB ocorreu em 2013. Por conta do lançamento do livro Privatize Já, Bruno Garschagen o entrevistou para o podcast. A entrevista não foi aprovada pelo conselho, o que irritou o economista. Muita discussão ocorreu abertamente no Facebook. Neste mesmo ano, Adolfo Sachsida publicou um texto em seu blog com o título Um Conselho aos Seguidores de Von Mises: Não Se Tornem Seguidores de Karl Marx, no qual criticava a postura radical dos libertários. Joel Pinheiro da Fonseca escreveu uma ótima resposta a Sachsida.

Na edição 172 da revista Roadie Crew, Wagner Lamounier, fundador da banda Sarcófago, ex-integrante do Sepultura e atualmente economista, disse: “acho que radicalismo é uma merda sempre que implica em querer impor aos outros, à força ou por meio de qualquer tipo de retaliação, sua própria visão e/ou opinião sobre algo. Isso se aplica à música, política, religião etc. Sou libertário – conheçam e assinem a petição para o partido LIBER ser criado! – e acredito no valor da liberdade de cada indivíduo escolher para si o que melhor lhe convier”.

Junho de 2013 foi o auge das manifestações. Também foi o marco da participação de libertários nas ruas. Na grande manifestação dos 60 mil de São Paulo, o LIBER organizou uma manifestação pelo fim do monopólio no setor de transportes. As duas manifestações se encontraram e muitos puseram conhecer uma outra forma de pensar a solução para os transportes com a panfletagem e os gritos de “monopólio não, livre mercado é a solução”. A participação de libertários nas manifestações em junho seguiram a agenda de participação iniciada no começo do ano com a manifestação de apoio a Yoani Sánchez em fevereiro. Não apenas em São Paulo, mas em outras cidades como Campinas, Rio de Janeiro e Recife, grupos libertários participaram de manifestações sobre os transportes e de outros eventos como a Parada Gay.

livreconcorrencia

A descentralização na produção de ideias se mostrou com a criação de outros sites de divulgação libertária como Livre e Liberdade com Luciano Oliveira e Andre Assi (que também possui um blog pessoal, o Bico do Tentilhão); Mercado Popular (influenciado pela abordagem Bleeding Heart do Libertarianismo) com Pedro Menezes, Carlos Góes, Mano Ferreira, Erick Vasconcelos, Felipe França, Anthony Ling (Rendering Freedom), Andre Ichiro, Rodrigo Viana (Libversiva e A Esquerda Libertária), Matheus Assaf, Ana Clara Barboza, Lorrayne Porciúncula, Diogo Coelho e Valdenor Júnior (Tabula não Rasa & Libertarianismo Bleeding Heart, o primeiro blog a divulgar o Bleeding Heart Libertarianism no Brasil).

Outros autores e pensadores tem surgido por conta da disseminação das ideias. Vale mencionar a Andrea Faggion que busca resgatar as raízes kantianas do pensamento libertário. Roberto Rachewsky (fundador do IEE) possui um blog de destaque, o Causas & Consequências.

Diversos institutos e mobilizações tem sido criados, entre eles há o Instituto Liberal do Nordeste (ILIN) com nomes como Ávilla Queiroz, Raduán Melo, Mano Ferreira, Gabriela Benício, Diego Barros, Rodrigo Saraiva Marinho e Cibele Bastos. O nordeste tem sido um pólo de mobilização com o Expresso Liberdade, com Lourival Filho, e a editora Resistência Cultural.

A ampliação do libertarianismo cultural teve seu ápice com os Acadêmicos de Milton Friedman, grupo idealizado por Jopa Velozo e João Nogueira que toca samba com letras satíricas. Outras iniciativas culturais, como o Versos Pela Liberdade, têm divulgado a liberdade através da arte.

Futuro

Muita coisa pode acontecer futuramente. Em 2014 o Ron Paul virá ao Brasil e deverá ser entrevistado e trazer o debate político eleitoral para questões de liberdade.

No mundo da política há também a consolidação do NOVO, que já possui libertários apoiando. As eleições de 2016 devem contar com um novo discurso para os entusiastas. Para alguns críticos, há o perigo do NOVO ficar preso dentro de um discurso liberal conservador sem conseguir grandes avanços efetivos. Entretanto, não é possível prever o futuro.

Todos os homens fazem história e há muito o que realizar. Que cada libertário seja um agente de transformação, quer seja no espaço micro ou macro.

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